Qual a relevância do horário eleitoral para o resultado das eleições
Considerado estratégico para modificar ou acentuar a percepção das candidaturas, o Horário Eleitoral teve início na sexta-feira, 30, de forma protocolar. A falta de novidades marca o início da programação na maioria das cidades e tem um motivo: a propaganda de tevê é voltada principalmente para o público que desconhece o candidato. Por isso tem um tom introdutório.
Em Goiânia, a deputada federal Adriana Accorsi (PT) voltou às suas origens e mostrou seu desenvolvimento até tornar-se delegada. Com cenas de ‘jornalismo verdade’ buscou comunicar que – apesar de filha de ex-prefeito da Capital – é uma batalhadora, dando o tom da campanha de mulher realizadora. Falou que jogava bets nas ruas e mostrou fotos antigas. Adriana nasceu no interior, mas viveu dos 2 aos 22 anos no Jardim Novo Mundo. As cores e pautas tradicionais do petismo não foram evidenciadas, evitando, assim, dar material para os haters de redes sociais.
Sandro Mabel (UB) também fez sua jornada de herói. A campanha reforça o apoio do governador mais bem avaliado do Brasil, Ronaldo Caiado, e sublinha seu perfil de gestor – cujo início remete ao Mabel do nome, com um marco zero no empreendedorismo do pai. O material visual e o design de campanha dão um tom republicano, com excelente captação da voz do candidato. Mabel é um candidato da centro-direita e que dialoga bem com o segmento empreendedor, mas seu tom está modulado para falar com a agilidade das ruas. A semiótica da campanha tanto na TV quanto nas redes é de um político que “faz”. De um homem realizado e que pode contribuir com Goiânia. Caiado mostra Mabel e o apresenta com vigor e voz grave – sem fraquejou, sem sibilância.
Recall
A candidatura de Vanderlan Cardoso (PSD) foi apresentada como um desenvolvimento à sua carreira. Candidato mais lembrado de todos por conta do recall de outras campanhas, ele começou com a união de dois atos comunicativos: é gestor. E também um político sensível. A construção dá a entender que ele está na fila para ser prefeito – e que agora chegou sua vez. Como Mabel, em alguns frames fica evidente que a produção deu um tom a mais na cor dos cabelos de Vanderlan, transparecendo vitalidade e – senão juventude – tenência e potência.
Fred Rodrigues baseia sua comunicação política de que é o candidato de Jair Bolsonaro, passeia pela cidade mal administrada e reforça que representa a sociedade conservadora. “Se você quer seu dinheiro respeitado, vem para a direita”, disse. A comunicação parece eficiente para o grupo que pretende dialogar – mas ele deve saber que nem Bolsonaro nem Lula têm impactado o voto consolidado. E os indecisos não indicam caminhar em Goiânia para o dualismo Lula-Bolsonaro. Daí que foi bem ao avançar e também realizar críticas, como às obras do BRT, numa constatação de que não basta o padrinho, mas criar “soluções”.
Aparecida
Veiculado pela TV Record, o horário eleitoral inicial de Aparecida de Goiânia serviu para os candidatos mostrarem a comunicação mais determinante das campanhas: Leandro Vilela (MDB) lembrou sua linhagem, compartilhada com o ex-prefeito Maguito Vilela – considerado o mais dinâmico e metropolitano do município.
Professor Alcides (PL), por sua vez, trouxe a mensagem que tem uma “vida em Aparecida”. E focou em imagens de campanha nas ruas. O programa inicial é alto astral e festivo.
Horário será confrontado com apelo das redes sociais
Assim como os candidatos de Goiânia, e de outros estados, as imagens de Aparecida de Goiânia lembram templates, o que já planta um desafio criativo para o futuro, com a necessidade das campanhas mostrarem ‘mesmo’ candidatos e gente que vota. E não modelos.
Apesar do primeiro programa ser protocolar e simbólico, o horário terá desdobramentos e muitas vezes convergência com as redes. As denúncias, projetos e repercussões de debates tendem a desaguar nele.
Modelo tradicional e já trocado em alguns países do exterior por debates entre candidatos, o horário fixa no elogio e menos em propostas.
A relevância do horário eleitoral será testada neste ano. Em outras capitais, como São Paulo, será mais evidente este confronto, uma vez que candidatos como Pablo Marçal (PRTB), um dos líderes da disputa, não terá espaço nas emissoras. Daí o embate: mídia tradicional rádio e TV versus mídias digitais e cortes. Lá a candidatura de Marçal será prova dos nove.
Em Goiânia, a candidatura mais próxima deste perfil seria a de Fred Rodrigues (PL), que tem o perfil dos candidatos de redes. Mas por outro lado tem tempo de TV – 1 minuto e 54 segundos. Na teoria, ele tem potencial para crescer como um candidato tradicional.
Já um dos políticos com menor tempo – Matheus Ribeiro, do PSDB, que terá 29 segundos – tem sua carreira baseada na TV como apresentador. Logo, terá uma imensa dificuldade para mostrar o que pensa – e nos debates, por ironia, ele apresentou bom desempenho.
Sem uma candidatura competitiva nas redes, a tendência é que o horário eleitoral da Capital mantenha a cadeia de fluxo de comunicação modelo para os indecisos ou quem sustenta que mudará de voto: o eleitor, primeiro, conversa em família, igrejas, amigos e esferas públicas sobre as candidaturas. Como o sociólogo Paul Lazarsfeld já indicava: fluxo em duas etapas. Então decide por meio de sua reflexão que candidato seguir. Assim, abre ao programa eleitoral a possibilidade de mudar ou reiterar sua escolha. É esta a função do programa: consolidar e mudar votos.