Crônica

Dia das Crianças e os presentes imateriais do meu pai

Crônica relembra o Dia das Crianças na presença de pais amorosos

O Dia das Crianças está próximo. A data me faz recordar a dedicação, preciosismo e cuidado que meu pai tinha para presentear. Como sou a caçula da família, nunca a data foi disputada com meus irmãos. Eu reinava como única criança. Meu pai não comprava por comprar. Não era uma obrigação. Ele sondava o que eu queria e buscava o que tinha de melhor.


Certa vez, pedi um carrinho para carregar a boneca. Como criança de 3 ou 4 anos, qualquer carrinho servia, não estava bombardeada por nenhuma propaganda incisiva de alguma marca. Eu só queria um carrinho para carregar minhas bonecas. Ele poderia ter comprado aqueles de plástico que estão à venda em qualquer loja e com preço acessível. Mas não. Ele queria dar “o melhor carrinho de boneca existente”, nem que ficasse dez meses pagando o presente. De repente, lá estava eu, chamando atenção da vizinhança inteira com um carrinho lindo, tecido todo florido, de ferro, tão resistente que dava para colocar a bebê da vizinha dentro (e eu? Amei!).


Mais crescida, meu desejo era ter uma bicicleta maior. Meu pai poderia ter ido à loja e comprado. Simples assim. Mas não, ele comprou peça por peça da bicicleta, quadro, guidão, pintou do jeito dele, procurou a melhor cesta, colocou um pneu branco – que, por sinal, achei chique demais- e deixou em cima da minha cama. Eu tinha uma bicicleta exclusiva, nas cores lilás e branco, com detalhes que nenhuma empresa conseguiria oferecer, porque não foi feita só com peças, teve doses de perfeccionismo e delicadeza que nenhuma montadora seria capaz de realizar.


Com 9 anos, meu desejo era ter um patins. Todas as amigas da rua tinham. Eu era a única que ficava esperando a boa vontade de alguém me emprestar para dar uma volta. Eu pedi de presente de aniversário, mas não ganhei. Pedi no Natal, não ganhei. Mas no Dia das Crianças, lá vem meu pai com uma sacola gigante de plástico transparente, zíper roxo e um kit de patinação. Além dos patins preto e roxo perfeitos ainda veio capacete, joelheira, cotoveleira. Eu saí da condição de criança que não tinha nada para a criança que tinha o kit completo. Andava na rua deslizando com todos os acessórios e nem lembro se pensei que valeu a pena esperar.


O fato é que meu pai não me dava só presentes, ele me dava tempo, criatividade, esmero, me oferecia bem mais do que o dinheiro pode comprar – me ensinou a esperar. Na época, eu só ficava feliz com os presentes. Hoje, observo o tanto que me amava ao procurar a excelência. O presente era uma desculpa de uma data comercial para ele demonstrar de forma integral seu amor e sua forma de educar. Resultado? Uma criança com zero frustração na infância. Se fui triste enquanto criança, não me lembro!

Jackeline Osório é servidora pública, jornalista e mestre em Comunicação pela UFG

Dia das Crianças em algum supermercado de Goiânia

 

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